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quarta-feira, agosto 23, 2006

Convicções...

" Pense-se no seguinte. Num alojamento subterrâneo, composto de dois quartos abafados, mora uma família proletária de sete pessoas. Entre os cinco filhos, suponhamos um de três anos. É esta a idade em que a consciência da criança recebe as primeiras impressões. Entre os mais dotados encontra-se, mesmo na idade madura, vestígio da lembrança desse tempo. O espaço demasiado estreito para tanta gente não oferece condições vantajosas para a convivência. Brigas e disputas, só por esse motivo, surgirão freqüentemente. As pessoas não vivem umas com as outras, mas comprimem-se umas contra as outras. Todas as divergências, sobretudo as menores, que nas habitações espaçosas, podem ser sanadas por um ligeiro isolamento, conduzem aqui a repugnantes e intermináveis disputas. Para as crianças isso é ainda suportável. Em tais situações, elas brigam sempre e esquecem tudo depressa e completamente. Se, porém, essa luta se passa entre os pais, quase todos os dias, e de maneira a nada deixar a desejar em matéria de grosseria, o resultado de uma tal lição de coisas faz-se sentir entre as crianças. Quem tais meios desconhece dificilmente pode fazer uma idéia do resultado dessa lição objectiva, quando essa discórdia recíproca toma a forma de grosseiros desregramentos do pai para com a mãe e até de maus tratos nos momentos de embriagues. Aos seis anos, já o jovem conhece coisas deploráveis, diante das quais até um adulto só horror pode sentir. Envenenado moralmente, mal alimentado, com a pobre cabecinha cheia de piolhos, o jovem "cidadão" entra para a escola. A custo ele chega a ler e escrever. Isso é quase tudo. Quanto a aprender em casa, nem se fale nisso. Até na presença dos filhos, mãe e pai falam da escola de tal maneira que não se pode repetir e estão sempre mais prontos a dizer grosserias do que pôr os filhos nos joelhos e dar-lhes conselhos. O que a criança ouve em casa não é de molde a fortalecer o respeito às pessoas com que vai conviver. Ali nada de bom parece existir na humanidade; todas as instituições são combatidas, desde o professor até às posições mais elevadas do Estado. Trata-se de religião ou da moral em si, do Estado ou da sociedade, tudo é igualmente ultrajado da maneira mais torpe e arrastado na lama dos mais baixos sentimentos. Quando o rapazinho, apenas com quatorze anos, sai da escola, é difícil saber o que é maior nele: a incrível estupidez no que diz respeito a conhecimentos reais ou a cáustica imprudência de suas atitudes, aliada a uma amoralidade que, naquela idade, faz arrepiar os cabelos. Esse homem, para quem já quase nada é digno de respeito, que nada de grande aprendeu a conhecer, que, ao contrário, conhece todas as vilezas humanas, tal criatura, repetimos, que posição poderá ocupar na vida, na qual ele está à margem? De menino de treze anos ele passou, aos quinze, a um desrespeitador de toda autoridade. Sujidade e mais sujidade, eis tudo o que ele aprendeu. E isso não é de molde a estimulá-lo a mais elevadas aspirações. Agora entra ele, pela primeira vez, na grande escola da vida. Então começa a mesma existência que nos anos da - meninice ele aprendeu de seus pais. Anda para cima e para baixo, entra em casa Deus sabe quando, para variar bate ele mesmo na alquebrada criatura que foi outrora sua mãe, blasfema contra Deus e o mundo e, enfim, por qualquer motivo especial, é condenado e arrastado a uma prisão de menores. Lá recebe ele os últimos polimentos. O mundo burguês admira-se, no entanto, da falta de "entusiasmo nacional" deste jovem "cidadão". A burguesia vê, como no teatro e no cinema, no lixo da literatura e na torpeza da imprensa, dia a dia, o veneno se derramar sobre o povo, em grandes quantidades, e admira-se ainda do precário "valor moral", da "indiferença nacional" da massa desse povo, como se a sujeira da imprensa e do cinema e coisas semelhantes pudessem fornecer base para o conhecimento das grandezas da Pátria, abstraindo-se mesmo a educação individual anterior. Pude então bem compreender a seguinte verdade, em que jamais havia pensado: O problema da "nacionalização" de um povo deve começar pela criação de condições sociais sadias como fundamento de uma possibilidade de educação do indivíduo. Somente quem, pela educação e pela escola, aprende a conhecer as grandes alturas, econômicas e, sobretudo, políticas da própria Pátria, pode adquirir e adquirirá, certamente, aquele orgulho íntimo de pertencer a um tal povo. Só se pode lutar pelo que se ama, só se pode amar o que se respeita e respeitar o que pelo menos se conhece."
Só consegui este texto em" português do Brasil" mas gostava de ler os vossos comentários.
Depois digo quem é o autor e o porquê deste texto.

7 comentários:

Kaos disse...

Infelizmente esse texto retrata muito bem a sociedade em que vivemos. Quando falamos da violencia, do desrrespeito de algumas pessoas esquecemo-nos que provavelmente todos somos culpados de ele ser assim. Claro que isto não justifica tudo e há casos, especialmente nas classes que puderam dar uma educação aos filhos e estes se transformam em sabujos. Mas, muito do que somos é aquilo que foi a nossa vivencias na infancia e na juventude. Muitos há que nunca as tiveram. Enquanto não se entender isto e se procurar resolver isto com mais policia e mais segurança não encontraremos saida para o verdadeiro problema.

Anónimo disse...

Todo o texto é o retrato da nossa sociedade, seja quem for o autor (bem podia ser Jorge Amado – Capitães da Areia mas não estou bem certo), e se é certo que nem todos os males dependem da nossa (pais) cura, é muito importante sentar um filho no colo, depois de um dia de separação forçada pelo trabalho, e dar-lhe mais amor e mais carinho do que brinquedos de plástico. Pode não curar mas alivia muitas dores.

MEHC disse...

O q sinto é q todos nós somos responsáveis por existir realidade como a q é descrita neste texto. Temos de lutar para q as pessoas possam viver com mais dignidade e melhores condições. Acho q a habitação condigna é fundamental. O acesso à educação e à saúde também.

ROADRUNNER disse...

A mim cheira-me a discurso nacionalista.

Mariazinha disse...

Roadrunner és tão espertinho !!!

Sofia disse...

Hmmm, estou curiosoa ! Quem escreveu??
Abraços,

Anónimo disse...

Agora qu sei quem escreveu o texto não me espanta nada, pois todos sabemos que os grandes lideres falam muito bem e convensem o povo de que têm razão mesmo quando cometem as maiores atrocidades.