"Marcelo foi um dos cônsules fascistas mais “puros” (na fidelidade à transposição do corporativismo e dos rituais bebidos em Mussolini para o status português) e dos mais criativos na decantação para as elites do compromisso entre oligarquia, ruralidade e desenvolvimento capitalista como forma de dar esperança e futuro à ditadura. Marcelo, homem de inteligência, de cultura e sofisticado, foi um fanático da praxis ditatorial até ao seu último suspiro, incapaz, em absoluto, de transpor a sua forma elaborada de pensar a sociedade e a política num qualquer cenário democrático, o que é típico dos intelectuais que adoram o povo desde que este siga fielmente os seus sinais e as suas chaves (não falta, à esquerda, muitos émulos simétricos, os das “vanguardas”).
A rigidez dos interesses instalados e as cristalizações ideológicas das elites fascistas, demasiadamente acomodadas à mesa farta parasitada e ao arrocho para os protestantes, além da marca fortíssima das particularidades da personalidade narcisista, obsessiva, manhosa, beata e autoritária de Salazar (O Chefe), transformaram Marcelo - provavelmente o mais puro, o mais fiel e o mais criativo dos fascistas portugueses - numa figura em permanentes sobressaltos de sinusóides no serviço à ditadura. Ora serviu na primeira linha do regime (como Chefe da Mocidade Portuguesa, como Ministro das Colónias, como Ministro da Presidência, como Professor e Reitor Universitário, como “delfim” de Salazar), ora abespinhava Salazar e, sobretudo, os ultras trogloditas do regime, assustando-os com os seus impulsos reformadores e evolutivos que nunca foram além do pensar na melhor forma de perpetuar a ditadura (de que o seu slogan “evolução na continuidade” é um autêntico paradigma). Acabou como se sabe, com o poder absoluto condicionado, nesse trágico beco sem saída que sempre seria a sucessão de Salazar que, fossem quais fossem as circunstâncias e os protagonistas, tinha o destino traçado de uma inevitável implosão do regime pela inviabilidade de haver salazarismo sem Salazar. Incapaz, não por falta de capacidade da sua parte, de desatar os nós que amarravam a ditadura ao passado (em que avultava o nó cego colonial), exerceu o seu mandato de Chefe vigiado, solitário e acossado de forma errática, desorientada e patética. Os seus últimos dias de poder foram, com crueldade trágico-cómica, um estertor patético – desesperado pelo impasse da agonia do regime, convoca os generais “reumáticos” para lhe jurarem fidelidade, foge dos capitães revoltados para o abrigo estúpido da GNR no Carmo, procura resistir dando ordens (não cumpridas) à GNR para chacinar a “populaça”, agarra-se a Silva Pais e pede à Legião para combater(!), horroriza-se por ter de parlamentar com um Capitão (Salgueiro Maia), passa a pasta a Spínola (enfim, um General!), sofre a humilhação extrema da saída numa “chaimite” sob as vaias populares, abriga-se (abrigam-no) na Madeira escoltado por um Sargento, exila-se no Brasil, zangado e ressentido com tudo e com todos (os que o serviram, quem ele serviu, os que o combateram). Recusa-se a voltar à Pátria "ingrata", vive os últimos tempos a desejar a morte, acabando por morrer longe.
O drama de Marcelo e a sua terminal incompetência clamorosa, um aparente paradoxo relativamente à alta envergadura intelectual e política do personagem e com uma longa experiência na lide com o poder, demonstram que se Marcelo não salvou o fascismo, mais ninguém o conseguiria fazer. Se o mais dotado (sobredotado até) entre os fascistas não deu solução ao fascismo português, então este não tinha mesmo ponta de cura possível. Aqui fica esta nota final como sinal do respeito possível perante a figura."
O drama de Marcelo e a sua terminal incompetência clamorosa, um aparente paradoxo relativamente à alta envergadura intelectual e política do personagem e com uma longa experiência na lide com o poder, demonstram que se Marcelo não salvou o fascismo, mais ninguém o conseguiria fazer. Se o mais dotado (sobredotado até) entre os fascistas não deu solução ao fascismo português, então este não tinha mesmo ponta de cura possível. Aqui fica esta nota final como sinal do respeito possível perante a figura."
In Água Lisa
Tenta-se agora branquear a sua figura através de um programa televisivo,com os testemunhos dos familiares e amigos mais chegados.Uma afronta para quem sofreu as agruras de uma ditadura.
Tenta-se agora branquear a sua figura através de um programa televisivo,com os testemunhos dos familiares e amigos mais chegados.Uma afronta para quem sofreu as agruras de uma ditadura.
6 comentários:
Não teve tomates para mudar quando o pode fazer, ou será que nunca o quis fazer?
Mudou algumas moscas, mas a merda ficou a mesma (ou pior).
Nunca enganou ninguém.
BJS
Andam aí muitos chefes!
http://bilroseberloques.blogspot.com/2009/04/pcp-move-inquerito-interno-dirigentes.html
Uma vergonha no séc XXI!
Bjs
Infelizmente de televisões deste calibre já nos habituámos a tudo, basta ver a fauna que por lá labora.
Foi o Salazar, agora o Marcelo, queres ver que o próximo é o Cabeça de Abóbora?!...
Saudações do Marreta.
E nas G3s surgiram cravos, quando deviam ter saido balas, de que serve um REVOLUÇÃO sem sangue. E ainda por cima deixaram fugir de Alcoentre os PIDES "filhos" do regime que muitos torturaram e nunca foram julgados. Depois foram colocados por aí e o Caciquismo voltou a minar este país.
Não descansem pois nós estamos VIVOS.
Vale mais este texto do que duas horas de televisão. Curioso como à medida que vão limpando estas figuras vão omitindo os que serviram na prisão.
Um abraço em família
Pois, e o Salazar é o maior dos portugueses e até as cÂmaras supostamente comunistas comemoram as suas obras como podes ver aqui:
http://blogue-do-ogre.blogspot.com/2009/05/o-triunfo-de-salazar.html
Bêjo
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