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sábado, novembro 08, 2008

REVOLUÇÃO HOTELEIRA




As escolas de Hotelaria e Turismo colocaram 113 professores para leccionar no ano escolar 2008/2009, anunciou o Turismo de Portugal.

No primeiro ano em que o Ministério da Educação abriu candidaturas às 16 escolas do sector em Portugal, o universo de candidaturas ultrapassou as 26 mil. Os docentes colocados irão leccionar disciplinas dos cursos de dupla certificação e especialização tecnológica. No último ano lectivo, 2. 500 alunos frequentaram as escolas de hotelaria e turismo.

O Ministério da Educação está a formar profissionais para engrossar as listas do desemprego e, no entanto, vai buscar jovens estagiários brasileiros para trabalharem em Portugal. É o maximo! Os quadros superiores, administradores, directores e chefias ganham ordenados principescos, enquanto os trabalhadores auferem ordenados de miséria, entre os 450€ e os 600€ . É pedido aos trabalhadores todos os dias sacrifícios redobrados: troca de horários, horários semanais, trabalho nos dias de folgas, e quem não cumpre sofre represálias e é discriminado. Em contrapartida, os aumentos salariais são adiados ao máximo.

A entrevista que se segue é bastante reveladora do estado da hotelaria no nosso país:

O entrevistado:

Rui Teixeira, 31 anos, formou-se em Gestão Hoteleira na Universidade Internacional. A nível profissional, trabalhou em departamentos financeiros de vários agentes de navegação. Passou pela Associação Portuguesa dos Agentes de Navegação, Comunidade Portuária de Lisboa e colaborou com a Federação Portuguesa dos Agentes de Navegação. Em Novembro de 1999 aceitou o cargo de administrador-delegado do Hotel Fénix.

(O Hotel Fénix é propriedade do grupo HUSA - Hotéis Unidos SA. Este grupo conta com dois hotéis em Portugal: além do Hotel Fénix, são proprietários do Ipanema, no Porto.)

* Recorrer a estagiários brasileiros

(Para responder a falta de mão-de-obra qualificada no sector hoteleiro, os empresários portugueses vão recorrer a jovens estagiários brasileiros. O acordo foi assinado durante o Congresso Luso-Brasileiro de Hotelaria e de Turismo, que correu no Recife em Outubro, entre entidades brasileiras, a Associação de Hotéis de Portugal (AHP) e o Instituto Nacional de Formação Turística. Segundo o presidente da AHP, Luís Alves de Sousa, citado no jornal «Diário Económico», os primeiros estagiários deverão chegar em Janeiro de 2001.)

-Numa entrevista ao jornal «Expresso», o secretário de estado do Turismo, Vítor Neto, referiu que existe falta de qualificação nos profissionais do sector hoteleiro. Como analisa esta situação?

-O que acontece em Portugal é que existe um envelhecimento dos quadros na hotelaria, porque o sector não é apelativo para os jovens. Por exemplo, cursos ministrados pelo Instituto Nacional de Formação Turística, no ano transacto, foram obrigados a fechar por falta de candidaturas. Ser empregado de mesa ou empregada de andares, num país em que tudo quer ser «doutor», é considerado uma profissão sem prestígio. Segundo um estudo da Fihotel – Federação da Indústria Hoteleira – a hotelaria em Portugal tem um défice de sete mil pessoas.

-Como se soluciona este problema?

-É preciso criar uma operação de marketing nas escolas e dar dignidade às profissões da hotelaria. A médio e longo prazo, a solução é cativar jovens para virem trabalhar para este sector. A curto prazo, a solução de recurso é o recrutamento de profissionais no Brasil.

-A criação de seis novas escolas de hotelaria e turismo – em Portalegre, Santarém, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Lamego – é também uma solução para o problema?

-O problema principal não passa por aí. Até podem abrir 50 ou 60 escolas, se houver falta de candidatos elas não funcionam. O que é necessário, em primeiro lugar, é dignificar as profissões ligadas à hotelaria, para que as pessoas se sintam estimuladas a exercer uma actividade nesta área.

-O afastamento dos jovens em relação a este sector está também ligado à reduzida remuneração das profissões ligadas à hotelaria. Concorda?

-Concordo. A nível de contratos colectivos de trabalho, o turismo sempre teve remunerações baixas em relação às restantes profissões. Mesmo com aumentos salariais acima da inflação, no caso do Hotel Fénix, temos dificuldade em gerir a mão-de-obra. Temos falta de pessoal para preencher os lugares vagos. Por exemplo, se sair um cozinheiro, nós temos imensa dificuldade em arranjar um substituto.

-O Hotel Fénix vai recorrer aos trabalhadores brasileiros?

-Eu fiz parte da missão empresarial que foi ao Recife e assinou um protocolo para recorrer a jovens estagiários brasileiros. Para os hotéis de cidade, como o Hotel Fénix, esta situação não compensa. Temos de pagar as viagens de ida e volta, o alojamento e as refeições. É um investimento muito grande e não temos garantias que os estagiários permaneçam até ao final. É uma incógnita a rentabilidade que o estagiário vai ter. Estes estágios de seis meses são apenas uma solução de recursos a curto prazo. Dentro desta solução, o melhor seria os estágios terem a duração de doze meses, para a empresa tirar mais rentabilidade do investimento.

-Os estagiários vêm ganhar menos?

-Os estagiários que chegarem vão enquadrar-se no contrato colectivo de trabalho. Não existe nenhuma discriminação.

-Na sua opinião não é então a solução mais eficaz?

-Não. A solução passa pela formação de quadros portugueses.

-A existência de apenas uma Escola Superior de Turismo, no Estoril, também não ajuda?

-Essa não é a principal justificação porque as escolas superiores formam quadros superiores. O mercado não precisa de quadros superiores. O que o mercado necessita é de quadros específicos, como por exemplo, recepcionistas, empregados de mesa…

-Então a solução, afinal, passa mesmo por criar escolas profissionais…

-Criar escolas profissionais, como por exemplo as seis acima citadas, tendo antes sido feita uma operação de marketing para chamar candidatos.

-Traçado que está o cenário actual, como é que vê a evolução deste sector?

-A evolução tem de passar pela qualificação dos recursos humanos. A certificação de qualidade dos hotéis passa pela qualificação dos seus profissionais. E se forem qualificados não é necessária tanta gente.

-Concluindo: menos pessoas, mas mais qualificadas?

-Exactamente.

Fonte: Jornal “Expresso”

* Publicado também no "Cheira-me a Revolução!"

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