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segunda-feira, julho 20, 2009

O meu Gerónimo


O meu gatinho faz hoje 3 anos

Tenho a certeza que ele é um anjo!


Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa
de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogara as moedas da noite
Oh pequeno
imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.

Pablo Neruda

6 comentários:

opinião própria disse...

Que gato tão lustroso, parabéns. Também é preciso sorte para ser-se gato...

Marreta disse...

Desconhecia este genial poema do Neruda dedicado ao gato! Para o grande chefe Apache Gerónimo e para o símbolo máximo anarquista aqui ficam os parabéns do gato-pai à minha fera predilecta!

Saudações do Marreta.

Maria Isabel Pedrosa Branco Pires disse...

Ganda beijinho ao Gerónimo

Kaotica disse...

Parabéns ao teu Gerónimo. É lindo como o meu Plutão! E adorei o poema do Neruda!

Um abraço grande

Zorze disse...

Mariazinha,

Adoro gatos. O meu morreu à uns meses atrás, era o Pélé.
Os gatos vêem a dimensão extrafísica permanentemente.
Atenta quando ele estiver a olhar para o vazio. Podes ter a certeza que ele está a olhar para o espírito que está ali.
Vêem o nosso holochakra.
Os felinos são os animais do nosso planeta com a mais desenvolvida capacidade óptica.
São animais com personalidade. Se não gostam, não gostam. Não se submetem.
Fizeste-me lembrar do Pélé, e como era inteligente.

Beijos,
Zorze

Mariazinha disse...

Obrigado a todos!

Zorze:

São animais fantásticos e por estranho que parece muito nossos amigos.

Beijokas