Onde estava no 25 de Abril de 74 ?
Era de manhã, aquelas manhãs de Abril em que o sol começa a ficar mais brilhante, a hora da escola tinha chegado. O leite com nesquick e a torradinha já na mesa, a mamã
ajudava a fazer o tal lacinho na bata impecavelmente passada a ferro. Fortes pancadas na porta fizeram o seu pequeno coração bater mais forte. Uma voz gritava:
- Vizinha, vizinha não deixe a sua menina ir à escola! Está a haver uma revolução, os militares estão na rua.
A mamã, assustada como sempre foi, agarrou logo a menina e foram as duas ouvir a rádio. Que coisa mais estranha! As marchas militares davam um timbre tão estranho aquela manhã. Ente rezas à nossa Senhora de Fátima e o matraquear das marchas, a mamã ia falando baixinho com as vizinhas.
Ai o que vai acontecer ?!
Para a menina o dia foi tornando-se glorioso, brincadeira na rua e uma crescente felicidade estampada no rosto dos mais velhos à medida que as notícias iam chegando.
È a liberdade, já podemos falar, explicava a vizinha à mamã. Então explicou:
-Foi por isso que o meu pai esteve preso em Peniche. Para aquela mulher a vergonha do seu tempo de menina transformou-se em orgulho, seu pai tinha também sido um herói, com a sua prisão contribuiu para a liberdade de todos nós. Depois veio o pai de sorriso rasgado com a certeza que nunca mais teria de ouvir a rádio Moscovo às escondidas.
Aconteceu tudo muito rápido, a noite chegou e a festa foi rija . Adormeceu por fim com a certeza que uma coisa chamada liberdade iria permitir-lhe crescer com dignidade.
mariazinha