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domingo, abril 12, 2009

O cerco à Constituinte



"Houve uma manifestação e concentração dos trabalhadores da construção civil frente ao Palácio de São Bento.
Após três dias de greve nacional, a manifestação dos trabalhadores da construção civil só foi dirigida para o Palácio de São Bento porque o Ministério do Trabalho se recusou a responder às reivindicações formuladas.

Na esperança de desmobilizar a manifestação encerrou as próprias instalações do Ministério na Praça de Londres.
No Palácio de São Bento, aspecto essencial a recordar, também funcionava o VI Governo Provisório.
A concentração em S. Bento não visava a Assembleia Constituinte, mas o Primeiro-Ministro e o Governo para quem o comportamento irresponsável do Ministro do Trabalho acabara por endossar a questão.

Na decorrência deste conflito entre trabalhadores e política do Governo, por efeito do radicalismo e da imponderação, quer o Primeiro-Ministro quer os deputados à Constituinte ficaram na prática impossibilitados de sair do Palácio de S. Bento, facto de que o PCP discordou (comunicado de 13/11/1975)."


Seguidamente alguns excertos do discurso, no parlamento,do deputado Octávio Pato:


"- Sr. Presidente, Srs. Deputados: O nosso país e a Revolução portuguesa atravessam um momento crucial. Os acontecimentos demonstram, de forma inequívoca, que uma viragem à direita na política portuguesa não resolve, antes agrava, a crise político-militar, assim como os conflitos sociais e a situação económica

Às tentativas de viragem à direita respondem centenas de milhares de trabalhadores com uma luta tenaz e firme. Desta luta dependem os destinos da nossa revolução e do nosso país.Nos quadros desta luta se insere a manifestação realizada no passado domingo, em Lisboa, manifestação que ficará gravada na história do nosso país como um marco no combate pela revolução democrática, rumo ao socialismo.
E assim será por vários motivos:

Em primeiro lugar, pela grandiosidade dessa manifestação, em que participaram centenas de milhares de pessoas, ficará gravada pelo facto de ter sido promovida e organizada pelas Comissões dos Trabalhadores da Região de Lisboa,...... o que mais uma vez demonstrou que a classe operária e os trabalhadores são a principal força revolucionária do nosso país.

A manifestação de domingo ficará ainda assinalada como uma grande manifestação unitária, a que aderiram todas as forças realmente identificadas com a Revolução. Ela será, por certo, mais um passo importante para a coesão de todos os revolucionários portugueses, civis ou militares.
Finalmente, a manifestação de domingo ficará gravada na nossa história como demonstração clara de que se não pode governar no Portugal de hoje sem o apoio do proletariado e das massas trabalhadoras, sem a adesão da sua vanguarda organizada.
Mas nos quadros da luta contra a viragem à direita assistimos na passada semana a outro importante acontecimento da vida nacional. Foram as grandiosas greves e manifestações de centenas de milhares de trabalhadores da construção civil. A notável e merecida vitória que obtiveram só foi possível pela extraordinária combatividade e unidade de que deram provas.

É inesquecível o espírito de sacrifício de, milhares de trabalhadores que, durante trinta o seis horas, sem dormir, ...
... ao frio da noite, sentados ou deitados nos ruas ou nos escadarias junto ao Palácio de S. Bento, ali se mantiveram e dali não arredaram pé.
O significado dessa luta de dezenas e dezenas de milhares de trabalhadores que auferem um salário de miséria não o quiseram ver os Deputados do CDS, do PPD e parte dos Deputados do PS. Não o quis ver o Dr. Mário Soares, que afirmou que a luta dos trabalhadores da construção, civil era "uma acção de sabotagem económica".

- A vitória dos trabalhadores da construção civil e a grande manifestação de domingo representam uma derrota para toda a reacção. Foram uma derrota para aqueles que tentam confundir a povo com as forças reaccionárias. Representaram uma derrota para os que pensaram ter "esmagado" o movimento popular de massas com as manifestações que organizaram. E, afinal, o PPD, ao convocar uma contramanifestação em Lisboa para se opor à grande luta dos trabalhadores da construção civil, apenas consegue juntar umas cem pessoas.

Se todos os revolucionários quiserem, se todos os verdadeiros democratas se unirem, os perigos da hora presente serão superados. As greves e manifestações dos trabalhadores da construção civil, assim como a grande manifestação de domingo em Lisboa, revelam a força invencível que se desprende da luta da classe operária e do povo trabalhador. Essas grandes lutas mostram que, se a reacção tentar pôr de pé os seus criminosos planos, quebrará os dentes.A Revolução continuará e triunfará. O nosso povo, em aliança com as forças armadas, construirá o novo Portugal, o Portugal democrático a caminho do socialismo."



Era assim o discurso do PCP no parlamento e assim se lutava num Portugal que muitos querem que seja esquecido.

Aprendamos pois novas lutas e lutemos pelos nossos direitos.

Por um Portugal livre, justo e solidario.



2 comentários:

Kaotica disse...

Fantástico post, Mariazinha, mesmo muito oportuno! Além das cantigas de Abril devíamos trazer para aqui documentos históricos que ninguém mais lembra! Mostrando assim o que era para ser e o descaminho que levou!

Um abraço resistente!

Mariazinha disse...

Kaotica:

Gostava de saber a opinião de certas pessoas que ainda se agarram ao radicalismo político e se recusão a juntar às outras forças democraticas fora do partido.
Portugal precisa de união à esquerda e não de sectarismos bacocos que só procuram protagonismo.